
Dessa convivência paradoxal, em que uma pessoa ama outra até as fronteiras do ódio, se joga em busca de vida no mais fundo abismo da morte, grita de tristeza em meio à tamanha felicidade, sente-se livre ao se deixar escravizar. A história do amor está repleta de estados inequivocamente contraditórios.
Que a verdade conhecida seja dita: Não existe ódio tão forte entre duas pessoas do que o que é precedido de uma intensa e calorosa paixão. Afinal, do amor ao ódio, como da vida à morte, o passo é breve.
Os poetas do amor já cantam os paradoxos vividos pelos amantes de todos os tempos. O exemplo mais conhecido está em Camões:
Amor é fogo que arde sem se ver;
É ferida que dói e não se sente;
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer;
É um não querer mais que bem querer;
É solitário andar por entre a gente;
É nunca contentar-se de contente;
É cuidar que se ganha em se perder;
É querer estar preso por vontade;
É servir a quem vence, o vencedor;
É ter com quem nos mata lealdade.
Mas como causar pode seu favor
Nos corações humanos amizade,
Se tão contrário a si é o mesmo Amor?
Exemplifica-se mais uma vez com esse outro soneto, menos citado, mas tão expressivo quanto o outro:
Tanto de meu estado me acho incerto,
Que em vivo ardor tremendo estou de frio;
Sem causa, justamente choro e rio,
O mundo todo abarco e nada aperto.
É tudo quanto sinto, um desconcerto;
Da alma um fogo me sai, da vista um rio;
Agora espero, agora desconfio,
Agora desvario, agora acerto.
Estando em terra, chego ao Céu voando;
Numa hora acho mil anos, e é jeito
Que em mil anos não posso achar uma hora.
Se me pergunta alguém por que assim ando,
Respondo que não sei; porém suspeito
Que só porque vos vi, minha Senhora.
O primeiro exemplo traz num mesmo momento e em uma só pessoa um contraditório conflito de sentimentos inconciliáveis, já o segundo, com paradoxos não tão diversos, suas palavras vem como uma justificativa do estado incerto onde se encontra o sujeito lírico exprimindo logo no primeiro verso. O poeta tem consciência de seu drama e desconcerto. O caráter dramático da composição resulta da constante tensão entre aparência e essência, construída pelo sistema de oposição do texto:
ardor x frio
o mundo todo abarco x nada aperto
alma x vista
fogo x rio
espero x desconfio
desvario x acerto
terra x Céu
O carmem 85 de Catulo, é considerada a expressão mais sublime da convivência paradoxal entre o amor e o ódio, onde o poeta se encontra preso em uma paixão exarcebada e doentia.
Odi et amo. Quare id faciam,
Fortasse requires. Nescio
Sed fieri senti et excrucior.
Odeio e amo. Por que faço isso,
Perguntaras, talvez.
Não sei, mas sinto que acontece, e atormento-me.
Este é um poema de notável expressividade, que simboliza o percurso de seu autor quanto amante.
O paradoxo, a antítese, como o oximoro, quiasmo, o trocadilho e varias outras figuras dão ao texto uma formulação rebuscada, sendo próprias de tempos labirínticos, onde o homem se encontra em permanente desconcerto consigo mesmo.
O homem se perde ao encontra o amor, pois sua estrada é como uma corda bamba sobre o abismo, incerta e insegura. A vida fica dividida em meias paredes com a morte, a euforia presa no pessimismo, a tristeza caminha ao lado da alegria, uma luz intensa é coberta por um manto de trevas, uma liberdade imensa entregue a mais perdida das prisões. O amor é assim: Caminhar por uma corda bamba pendurada nos lados de um precipício.
amor e odio essa é uma realidade,os dois andao juntos sempre...
ResponderExcluircomo pode dois sentimentos tao diferentes serem tao iguais ao mesmo tempo??
sao extremos...
sao muito fertes...
ao ponto de se tornarem iguais...
quem muito odeia é porque em algum momento muito amou...
PRI DINIZ!!
Com certeza Pri *-*
ResponderExcluirshow!!!!
ResponderExcluir:DD
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